Reliane de Carvalho
Como se posiciona diante dos desconfortos da vida e dos processos relacionais?
Atualizado: 15 de jul. de 2020
Cada dia temos a oportunidade de um recomeço, a vida renasce a cada dia em cada passo que damos. Cada dia temos a oportunidade de fazer algo diferente do que fizemos ontem rumo ao nosso crescimento, mas para isso conseguir é preciso estarmos em atenção plena, mergulhados no nosso mundo interior e na nossa capacidade de expansão, construção.

Mas como podemos nos abster da realidade do mundo e voltar a nossa atenção para dentro de nós, com tantas coisas a acontecer? Com pessoas a nossa volta a fazer-nos mal? A ofender-nos? A tentar transgredir a nossa paz em pró de si mesmo? Como podemos ficar em atenção plena num mundo que está em constante movimento em busca do ter e muitas vezes sem valorizar o ser? Como estarmos com a atenção voltada para dentro de nós num mundo que exige que cada dia sejamos verdadeiros guerreiros para superar as adversidades impostas pelo caminho?
Na verdade, todos estes questionamentos, levam-nos ao caminho da atenção plena, da interiorização, da reforma interior. É importante percebermos que tudo aquilo que nos incomoda, que ressoa em nós, é algo que temos que trabalhar em nós. Que emoção que isso tocou? Porquê estou me sentindo tão incomodado (a)? Porquê sempre dou, dou e nunca recebo? Porquê sou verdadeiro (a) e as pessoas que estão a minha volta traem a minha confiança?
E a cada vez que um incomodo acontece, por mais duro que seja, este desconforto vivido é agente de crescimento. Pois, se estamos em consciência, em atenção plena, vamos desligar os pensamentos, desacelerar, vamos conectar com o nosso “eu mais profundo”, e a partir daí, vamos entender e perceber que o que doeu, o que feriu, o que machucou, não é do outro, é meu. Não foi a atitude do outro, não foi o que o outro fez e sim como a senti, e como reagi diante dela, de acordo com as emoções que carrego dentro de mim.
Sendo assim, um dos segredos para estar em atenção plena, em consciência, é olhar para dentro de si, do seu interior, como um “elemento em expansão”, em contínuo em crescimento, e este “eu interior” cresce nas adversidades, nos momentos de desconforto, na busca constante que temos que adotar pelo equilíbrio para que os acontecimentos não nos derrubem ao chão ao ponto de quase não nos deixar de lá levantar tamanha a dor sentida.
Buscar o equilíbrio, buscar trabalhar as emoções, buscar resgatar a força interior e com emoções trabalhadas não agir em impulsividade e sim em consciência, é o que nos leva ao um caminho de mais paz nos processos relacionais. E um dos passos para isso atingir é sair da posição de “julgador da vida”, deixar de julgar o outro, a vida, o mundo, podemos até fazer uma analise circunstancial de toda a situação vivida, e isso é estarmos em atenção, é estarmos em consciência, é estarmos conectados com o mundo. Podemos e devemos ater-nos a que tipo de emoção o outro pode estar a sentir para assim agir, como foi o seu passado, quais foram as experiências que viveu, o que ele ainda talvez precisa aprender, crescer, evoluir. No entanto, apontar defeitos, críticas, sem nos direcionar para nós mesmos em busca de melhorar as nossas emoções, acaba por transgredir a paz, coíbe o crescimento. Equivocadamente nos deixa na posição de vítimas, sem conseguirmos assumir o nosso verdadeiro papel como protagonistas da nossa própria vida em busca de um contínuo crescimento.
Reliane de Carvalho